Resumo da semana: B3 recua e dólar dispara com tensões fiscais e incertezas externas
Indicadores refletem ruído político interno e pressão global por ativos seguros
MERCADO


A segunda semana de outubro terminou em queda para o mercado brasileiro, marcada por um cenário de tensão fiscal interna e aumento da aversão global ao risco. O Ibovespa fechou a sexta-feira (10) em 140.680,34 pontos, com recuo de 0,73% no dia e 2,44% na semana. O dólar comercial encerrou cotado a R$ 5,50, em alta de 2,38% no dia e 3,17% na semana, alcançando o maior nível desde junho.
O desempenho negativo foi resultado da combinação entre preocupações com as contas públicas e incertezas no cenário internacional. No Brasil, o debate sobre a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda reacendeu o temor de aumento do déficit, enquanto o anúncio do novo modelo de crédito imobiliário levantou dúvidas sobre o impacto fiscal. Já no exterior, a continuidade do shutdown parcial do governo dos Estados Unidos e a indefinição sobre a política monetária do Federal Reserve reforçaram o movimento de busca por segurança e pressionaram moedas emergentes.
Cautela e busca por proteção
Durante a semana, o mercado doméstico apresentou volatilidade elevada. A Bolsa chegou a alternar breves altas, mas perdeu força diante da valorização global do dólar e do enfraquecimento do fluxo estrangeiro. Segundo análise da InfoMoney, o sentimento predominante foi de “espera vigilante”, com os investidores preferindo posições mais defensivas em empresas dolarizadas e de setores menos sensíveis à política fiscal.
O avanço da moeda americana também refletiu um movimento global de proteção. O real acompanhou a desvalorização de outras divisas emergentes, influenciado pelo aumento da percepção de risco e pela ausência de uma sinalização clara sobre o equilíbrio fiscal brasileiro.
Setores e dados econômicos
Entre os setores, consumo e saúde mostraram desempenho relativamente melhor, com Raia Drogasil (RADL3) figurando entre as maiores altas da semana. Já empresas ligadas a commodities e energia sofreram com o recuo dos preços internacionais, afetando companhias como Petrobras e Vale, que contribuíram para a pressão negativa sobre o índice.
Na agenda macroeconômica, o IBGE divulgou que a produção industrial cresceu 0,8% em agosto, sinalizando recuperação gradual da atividade. Apesar do resultado positivo, o dado não foi suficiente para alterar a percepção de fragilidade das contas públicas. No câmbio, a forte valorização do dólar ao longo da semana reforçou o movimento de ajuste e serviu como termômetro do desconforto dos investidores com o cenário fiscal.
De acordo com dados da B3, o real figurou entre as moedas com pior desempenho global na semana, em meio à fuga de capitais e à valorização da moeda americana. Esse comportamento reforça o peso dos fatores internos sobre a confiança do mercado, mesmo quando o contexto internacional já é adverso.
Imagem meramente ilustrativa
Principais informações
Ibovespa: 140.680,34 pontos (–0,73% no dia / –2,44% na semana)
Dólar comercial: R$ 5,50 (+2,38% no dia / +3,17% na semana)
Produção industrial: alta de 0,8% em agosto (IBGE)
Setores de consumo e saúde registraram ganhos pontuais
Commodities e energia pressionaram o índice
Isenção do IR e crédito imobiliário ampliaram incerteza fiscal
Aversão global ao risco fortaleceu o dólar e reduziu o fluxo estrangeiro
Opinião Feed Financeiro
A semana reforçou a dificuldade do mercado em encontrar pontos de estabilidade. O investidor brasileiro permanece dividido entre a oportunidade de comprar ativos descontados e o receio de novos solavancos fiscais e políticos. O avanço do dólar e a queda do Ibovespa mostram um mercado que prefere se proteger a arriscar.
Sob a ótica comportamental, esse movimento revela uma lição recorrente: em tempos de incerteza, o impulso deve dar lugar à prudência. O excesso de ruído fiscal e a falta de clareza na comunicação econômica do governo alimentam a volatilidade e limitam decisões racionais. Ainda assim, o cenário abre espaço para quem enxerga valor no longo prazo e mantém disciplina diante da turbulência.
Encerrar a semana com cautela não é pessimismo — é maturidade de mercado. Em meio à oscilação cambial e ao estresse fiscal, a paciência continua sendo o ativo mais escasso e, paradoxalmente, o mais valioso.
Fontes: BoraInvestir, InfoMoney, MoneyTimes